segunda-feira, 19 de abril de 2010

Saint Paul.

São Paulo tinha pra mim um jeitão de Smiths. Eu ainda morava na Amazônia e passava as férias férias? numa Londres tropical com ônibus vermelhos de dois andares e com cabines de trânsito altíssimas nos cruzamentos da Paulista, onde os guardas lááá em cima caetanamente procuravam discos voadores no céu, maluquices charmosas do prefeito daqueles anos, um certo ex-presidente que gostava de vassouras e não escondia sua paixão pelas terras de Elizabeth e da batata quente na boca.

As noites clichês (cinzas e frias) tão diferentes do Senegal amazônico em que eu vivia suado suando odiando me levaram aos porões do Madama Satã onde no meio da pista menor tinha uma cama enorme pra facilitar a pegação. Na pista de cima sempre tinha um showzinho, lembro de um travesti que terminou sua performance nu numa banheira jogando água vermelha na platéia. O Rose Bombom ficava nos jardins oscarfreireanos e era un poquito más família, umas bandas que tocavam por lá depois se tornaram “ legiões “ e os muitos Mórriseis que sofriam ou faziam sofrer cantavam contorcidos os seus melhores versos de amor: “ E se um ônibus de dois andares batesse em nós, morrer ao seu lado seria um jeito divino de morrer.”

E ainda tinha neblina, uau, neblina e sombras nas madrugadas a dois de volta pra casa. Baby, “ me leve pra sair hoje à noite, me leve pra qualquer lugar”. Não há mais neblina em São Paulo mas há Morrisey no Ipod.

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